Talvez tudo que rodeou minha vida, meus traumas, minhas alegrias, tenham sido grandes sintomas para que eu vivesse e convivesse com a arte como se ela que fizesse meu coração pulsar todos os dias, ou melhor, não como se ela fizesse, ela faz.
Cresci na cidade de Ibiúna, num bairro chamado Recreio, posso admitir hoje que fui uma criança infeliz, não fui de muitos amigos, e os que eu chamava de amigos eram mais sobre eu achar que era aquilo que eu merecia. Eu não fui uma criança com auto estima, eu ajudava os outros com isso, nunca a mim mesmo, e o único momento que eu tentava doar pra mim era quando eu escrevia meus diários sobre o quanto meus dias não eram bons, e quando eu desenhava, sempre desenhava, qualquer coisa se tornava uma tela pra mim, a carteira da escola, o guardanapo nos restaurantes, era a maneira que eu encontrei de me desligar do que eu tinha muito medo…do mundo.
Certo dia, quando eu tinha 19 anos, eu sentei ao lado do meu guarda-roupa e peguei uma caixa com inúmeros diários e desenhos da minha infância, e quando digo muitos aqui, quero dizer muitas centenas de desenhos e dezenas de diários, um deles em especial, um caderno azul, datado de quando eu tinha 06 anos, ele possuía alguns desenhos com a descrição daqueles personagens que eu criava, e textos sobre como foi meu dia, próximo a esse caderno azul, encontrei um pequeno caderninho, um dos meus diários, com as escritas a lápis, uma letra muito bonita para uma criança de 06 anos, e descrições do meu dia bem detalhadas, como por exemplo “Oi diário, hoje meu primo veio em casa e brincamos de bolinha de gude, mas não gosto muito dele”. E numa das descrições do meu dia encontrei uma frase que nunca mais esquecerei.
Queria que meus desenhos me fizessem companhia pra eu nunca ficar sozinho.
E assim, eu decidi escrever meu primeiro livro, Arthur e o Vale de Papel. No início era pra ser apenas uma criança qualquer vivendo uma aventura, mas eu coloquei muito de mim naquilo, coloquei minha alma, ao ponto de me doer muito ler as páginas desse livro, desde que lancei eu abri apenas uma vez ele para ler, mas nunca consegui terminar. Eu sei que eu transformei inúmeras memórias que me doeram muito na infância num livro mágico, de alegrias e fantasias, mas diferente de um leitor, não lerão com as memórias de uma dor.
Mas independente do que ler as palavras do meu próprio livro me tragam na memória, sou extremamente grato por Arthur, por inúmeros motivos, o principal claro é pela quantidade de carinho que eu recebi desde que o lancei, da quantidade de carinho que pude doar com essa obra, eu tenho muito orgulho de poder dizer hoje, que um livro que falava sobre as minhas dores, pode se transformar em algo que poderia curar, e alegrar outras pessoas.
Pra mim foi um acidente me tornar um escritor, transformei diários numa história de fantasia, desenhos em personagens dessa história, decidi mostrar pra minha mãe e lembro dela debochando quando eu disse que eu escrevi um livro mas eu só tinha um arquivo de texto no computador, e publiquei o livro, e foi um sucesso que eu não entendia o que estava acontecendo, de repente, o garoto tímido, retraído e com medo do muito estava sendo convidado para dar palestras em inúmeras instituições sobre literatura…e assim Arthur Macedo Correia nasceu, pois eu não existia…
Como eu disse aqui, não fui uma criança que aproveitou a tal da infância, e isso me fez crescer sentindo falta de algo muito importante pra todos nós, a falta de mim mesmo. Um dos momentos mais importantes da minha vida foi quando me casei com meu marido Fábio, ele é estranhamente peculiar, um amor…mas voltando…a falta de mim mesmo, sempre me trouxe grandes crises, o que estou tentando dizer aqui, é a falta de nos amarmos, amarmos quem somos e quem conseguimos ser, e uma das primeiras noções de amor por mim mesmo, foi quando visitando escolas, as crianças e professoras começaram a me chamar de Arthur, pois eles sabiam, eu sei que sabiam, que aquele personagem, não era uma mera invenção, era sobre mim. E me acostumei a ser chamado de Arthur, e passei a me apresentar assim, e um dia, mudei realmente meu nome, e transformei aquela criança que um dia eu fui, em Arthur. E isso foi muito importante pra mim, foi como se através de um pequeno gesto pra mim mesmo, eu tivesse sentido pela primeira vez, o que era se sentir feliz, completo, genuíno pra mim mesmo.
Hoje moro com meu marido, e com minhas duas gatas, Geneviève, que viram na foto acima, e Adhara, sua filha.
Perguntas de leitores
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Antes fingíamos ser loucos pra não cansar da vida, hoje fingimos ser lúcidos num mundo onde todos estamos loucos. Elias
Arthur e o Vale de Papel Direitos de publicação © Arthur Macedo Correia
Giants Gigantes de Armadura Direitos de publicação © Arthur Macedo Correia
O Castelo de Sofia Direitos de publicação © Arthur Macedo Correia